RESTAURANTES RUÍNAS
- Juliana Amorim
- 21 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
Com o passar do tempo, a evolução e urbanização de certas regiões acabou realocando os moradores e refletindo no esquecimento de outros pontos da cidade. Dessa maneira, diversos imóveis foram abandonados e muitos se encontram nessa situação até hoje. Grande parte destes, acabou se degradando e sendo ocupado de forma irregular e precária, o que aumenta ainda mais a problematização do tema.
Nos últimos anos, a recuperação dessas arquiteturas, que guardam a memória do lugar, vem ganhando força na Europa, mas já começa a ser ponderada aqui no Brasil. Casas, pavilhões, silos e outras edificações são compradas e reformadas para transformarem-se em espaços comuns de lazer.
Esse tipo de intervenção e seu impacto na paisagem urbana são fundamentais para a formação ou resgate da identidade não só do edifício, mas também de seu entorno. Por isso, separamos três exemplos de restaurantes ruínas que estão ganhando o coração de quem passa pelo local:
Mazel Tov - Budapeste
Os bares ruínas já se tornaram parte da vida noturna de Budapeste, sendo cada vez mais procurados pelos turistas e amados pelos locais. Entre eles, destaca-se o Mazel Tov, um espaço gastro-cultural que carrega grande herança do bairro judaico, onde está localizado. Tais características são encontradas tanto no nome (que significa boa sorte), quanto na culinária oferecida do Oriente Médio e nas características físicas do ambiente.
Surpresa com certeza é a primeira impressão ao entrar em Mazel Tov, pois sua fachada voltada para a rua ainda mantém certo ar de descuido, escondendo o design sofisticado e descontraído que traz em seu interior. Uma gigantesca clarabóia brilha no pátio de entrada, que possui pé direito duplo e vegetação nas paredes laterais intactas de tijolo aparente.
Na reforma, foram inseridos materiais de características neutras para não competir com os originais, são eles: madeira, cascalho, azulejo marroquino, tubulações aparentes e a própria iluminação, que é um dos pontos mais cruciais do projeto. Aos fundos, abre-se um pátio exuberante e acolhedor, como em um grande jardim com árvores iluminadas, que preserva o muro original do antigo gueto judeu.
Ixi’im - Yucatán, México
A degradada casa de máquinas, localizada em uma antiga fazenda têxtil no México foi remodelada a fim de receber um novo uso: O restaurante Ixi'im. Tal reforma presou por manter toda a estrutura existente e tecê-la por uma armação metálica que, além de remeter a atividade industrial do local, seria um marco do novo programa arquitetônico, diferindo a intervenção do patrimônio.
A presença de uma grande barra de ferro funciona como viga, o que permitiu liberar a estrutura existente de receber cargas estruturais, fixar vidros para oferecer uma ampla vista para o pátio e em consequência penetrar luz natural indireta para o interior dos ambientes. Além disso, sua projeção para além da edificação gera um novo corredor, onde foram instalados uma cozinha e área de jantar. As paredes antigas servem como divisórias para separar o layout em diferentes tipos de atividade. Detalhes como painéis de madeira no teto e piso de ladrilho padronizado se contrastam às paredes originais descascadas.
Malmö Saluhall - Malmo, Suécia
Restavam apenas as paredes de tijolo de um antigo depósito de cargas, próximo à Estação Central de Malmö, quando decidiu-se reformá-lo para criar ali um Saluhall - espécie de mercado público, muito comum na Suécia, que abriga vendedores de alimentos e ingredientes locais.
O objetivo foi incorporar um segundo volume anexo, com a mesma silhueta do galpão existente, porém, como as condições do terreno não foram favoráveis em toda sua extensão, metade da nova edificação projeta-se apenas como uma cobertura, sem estruturas embaixo. Uma fenda entre os dois edifícios permite a entrada de luz natural tanto para a antiga fachada de alvenaria, quanto para dentro do ambiente.
A fim de distinguir o novo do antigo e reforçar o caráter industrial que tomou conta do bairro durante muito tempo, optou-se pela utilização de um aço que permite oxidação (resistente à intempéries) para as fachadas, e uma vegetação que futuramente cresça e se integre a ela.
Estes são apenas alguns exemplos de antigas estruturas, já degradadas, sendo utilizadas para um novo uso (no caso, restaurantes). O processo de reconverter uma obra arquitetônica possui uma importância de grande relevância para o espaço urbano. Manter um corpo edificado que tem uma história e uma relação volumétrica com a urbe potencializa seu reconhecimento como parte integrante da cultura de um local, além de evitar o desenfreado ritmo de demolições e construções que vemos hoje nas cidades.
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